janeiro 31, 2011

Separação.

Para  Thais.


Sentados a mesa durante o jantar Fernanda quebrou aquele silêncio desconcertante e foi logo dizendo:
- Não está dando certo! você nunca está aqui, vive viajando, pensei que pudesse lidar com essa situação, mas não posso!
Com o passar dos anos eles foram se tornando estranhos sob o mesmo teto, é verdade... Pensou Jhonas, que ainda tentou argumentar.
- Mas eu...
Em vão! Fer passara os últimos 30 dias (tempo que durou a ultima viagem dele) ensaiando o que diria. Estava decidida.
Colocou as coisas dele uma a uma dentro da enorme mala, Jhonas permaneceu sentado na poltrona da sala, fumando um cigarro atrás do outro. Sabia o quanto a fumaça a irritava, mas agora também, pouco importava agradá-la 
- Ah! todos esses anos e depois ir embora num sábado qualquer às duas da madrugada... Quando foi que o amor acabou e deu espaço à rotina ?
Pensava entre um cigarro e um copo de uísque e nem sabia se concordava mesmo com isso.
A garrafa de uísque estava no fim...
- Fer...
- Oi .
- Posso levar essa foto ?
- Qual ?
- Essa sobre a mesa, foi na nossa festa de casamento.
- É, eu sei, pode! leva a foto, deixa o porta retratos, ganhei de presente.
- É, eu sei. Comprei-o na nossa viagem de lua de mel.
  E o silencio continuou tomando conta dos dois... Tinham muito a dizer mas optaram por calar e não dar margem a possíveis palavras erradas.
- O que aconteceu ?
- Com o que ?
- Com a Fer e o Jhonas dessa foto ? 
perguntou ele sem saber mesmo onde estavam os dois de 8 anos atrás.
- Foram por caminhos diferentes.
Respondeu suspirando.
-Que pena...
E o silencio volta a reinar por longos minutos.
- Fer...
- Ham.
- Os cigarros acabaram, o uísque também.
- Hum hum...
- Bom, ninguém mais vai te incomodar com a fumaça.
-Espero que não.
(De fato ela odiava o senso de humor dele)
Sem dar espaço pro silencio ele decide tentar conversar.
- Fer...
- Oi...
- Deixa eu tentar outra vez?
- A mala está pronta. Chamei um táxi pra você, já chegou.
Despediram-se, um tanto embaraçados... Sem acreditar que era realmente um até nunca mais.
Como pode alguém sair da vida do outro levando apenas uma mala? Roupas, planos e sonhos embolados...
Ia pegando as chaves mas ela o lembrou de que não precisaria mais delas.
Saiu...
Fernanda ficou imóvel na sala, não chorou.
Olhou ao redor e sentiu o mesmo vazio dos últimos meses.
- Ele já não estava mais aqui mesmo. 
Pensou.
O táxi parado no portão... 
-Pra onde senhor ? 
Perguntou o motorista já prevendo a resposta ou a falta dela.
- Espere... 
Como se ela pudesse se arrepender e voltar atrás. O que não aconteceu.
- Vamos...
Ligou então o motor.
- Jhonas ! espere.
O rosto dele ilumino-se e o coração encheu-se de esperança.
- Oi...
Falou já descendo do carro.
- A foto! você esqueceu de pegar.
- Ah é mesmo, que cabeça a minha.
Pelo retrovisor o motorista a viu parada no meio da rua até que dobrou a esquina, Jhonas com os olhos fixos na fotografia não viu.
- Senhor... pra onde vamos ?
Diante o silencio ficou dando voltas na cidade vazia. Estava acostumado com separações...
E era justamente o que Jhonas estava pensando. 

Você diz que tudo terminou
Você não quer mais o meu querer
Estamos medindo forças desiguais
Qualquer um pode ver
Que só terminou pra você

São só palavras teço, ensaio e cena
A cada ato enceno a diferença
Do que é amor ficou o seu retrato
A peça que interpreto,um improviso insensato
Essa saudade eu sei de cor
Sei o caminho dos barcos
E você diz que tudo terminou
Mas qualquer um pode ver
Só terminou pra você
Só terminou pra você
.
(Os Barcos - Legião Urbana)












Um comentário:

  1. Só posso dizer q a Fernanda fez o que era certo. Esperar é triste demais, ainda mais quando se espera tanto por algo que se torna um vazio.

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