outubro 31, 2013

Mas se partes, que partas totalmente.

Parou o carro e entreabriu a porta, assim que entrou um nó se fez na garganta, tentaram não discutir durante o trajeto, inutilmente, parece que naquele dia tudo conspirava contra os dois. Desceram na garagem escura, forçaram alguma segurança, algum laço, alguma intimidade. Vans tentativas, todas elas no último ano teriam sido em vão também? Temia que sim.
Dias antes tudo tinha sido tão perfeito e havia tanto amor, olhos, bocas, peles, almas que se reencontraram por brincadeira do destino e aqueles corpos vestiam-se como luva, se entrelaçavam e laçavam num frenético jogo de amar.
Então, sentada ali, meia luz, perguntava-se de onde vinha aquele sentimento de que seria a última vez, beijava como se, despedindo-se de um amor que vai partir, ali, parados naquela estação por onde tantas vezes estiveram e de onde brotavam lembranças e emoções. Não pode conter as lágrimas, que rolavam sem motivo aparente.
Continuaram por mais algum tempo tentando forçar alguma familiaridade, algum motivo pra que estivessem juntos ainda, mas nada acontecia. O nó na garganta não se desfazia e por mais que segurasse o choro algo dentro de si gritava: Despeça-se, esta é a última vez.  O toque do telefone soou como o apito do trem que vai partir, uma, duas vezes e o que vem depois da despedida? Voltou pra casa sem rumo, completamente perdida no turbilhão que lhe passava na cabeça. Voltaram pra casa sem uma desculpa pra dar para a dor que sentiram ao partir, mas cada um colocou sua máscara de felicidade e foi.
Foram um do outro.
Foram-se um do outro.
Se foram.
De qualquer modo já não estavam mais. Partiram sem despedirem-se, apitos de trens não esperam o último adeus.
Não estar mais doeu por alguns dias. No primeiro escondeu-se do mundo, tentando incansavelmente fugir de si mesma. No segundo fez greve de fome, no terceiro pediu socorro, percebeu as olheiras, sentiu fome, pouco a pouco foi saindo do buraco onde se enfiara. Não há como esconder-se dentro de si mesma afinal.

Hora de abrir as janelas e o coração, coisas boas hão de vir.