Parou o carro e entreabriu a
porta, assim que entrou um nó se fez na garganta, tentaram não discutir durante o
trajeto, inutilmente, parece que naquele dia tudo conspirava contra os dois.
Desceram na garagem escura, forçaram alguma segurança, algum laço, alguma
intimidade. Vans tentativas, todas elas no último ano teriam sido em vão também? Temia que sim.
Dias antes tudo tinha sido tão
perfeito e havia tanto amor, olhos, bocas, peles, almas que se reencontraram
por brincadeira do destino e aqueles corpos vestiam-se como luva, se entrelaçavam
e laçavam num frenético jogo de amar.
Então, sentada ali, meia luz,
perguntava-se de onde vinha aquele sentimento de que seria a última vez,
beijava como se, despedindo-se de um amor que vai partir, ali, parados naquela
estação por onde tantas vezes estiveram e de onde brotavam lembranças e
emoções. Não pode conter as lágrimas, que rolavam sem motivo aparente.
Continuaram por mais algum tempo
tentando forçar alguma familiaridade, algum motivo pra que estivessem juntos
ainda, mas nada acontecia. O nó na garganta não se desfazia e por mais que
segurasse o choro algo dentro de si gritava: Despeça-se, esta é a última vez. O toque do telefone soou como o apito do trem
que vai partir, uma, duas vezes e o que vem depois da despedida? Voltou pra
casa sem rumo, completamente perdida no turbilhão que lhe passava na cabeça.
Voltaram pra casa sem uma desculpa pra dar para a dor que sentiram ao partir,
mas cada um colocou sua máscara de felicidade e foi.
Foram um do outro.
Foram-se um do outro.
Se foram.
De qualquer modo já não estavam
mais. Partiram sem despedirem-se, apitos de trens não esperam o último adeus.
Não estar mais doeu por alguns
dias. No primeiro escondeu-se do mundo, tentando incansavelmente fugir de si
mesma. No segundo fez greve de fome, no terceiro pediu socorro, percebeu as
olheiras, sentiu fome, pouco a pouco foi saindo do buraco onde se enfiara. Não
há como esconder-se dentro de si mesma afinal.
Hora de abrir as janelas e o
coração, coisas boas hão de vir.