agosto 18, 2011

Na janela das lembranças...


Ela está aprendendo a andar de bicicleta...
- Mamãe, olha, o papai tirou as rodinhas da minha "Bici"!
Me diz ela eufórica... Saio na janela, para olhar e na grama ela tenta descer o imenso quintal, equilibrando-se, desequilibrando-se ...
Coloca os pés no chão, tenta mais uma vez, certificando-se de que estou observando a sua grande conquista.
- A avó da Bianca ( a coleguinha da esquina) disse pra eu fazer assim ó:
Me mostrava...
Colocava os pezinhos no chão e ia empurrandinho em solavancos a bicicleta.
Eu então, fiquei ali na janela lembrando o dia em que ganhei a minha primeira bicicleta.
Em épocas muito difíceis, meu pai trabalhava em dois empregos, minha mãe costurava para fora, passava dias e noites naquela máquina de costura, morávamos em Curitiba, eu tinha uns 10 anos.
Lembro da cena, eles saindo de casa e não quiseram nos levar, havia um shopping a algumas quadras de casa era um shopping popular, íamos sempre lá.
Algum tempo depois meu pai volta sozinho, entra no quarto e pega alguma coisa que eu não identifiquei , sai outra vez. Voltaram com uma expressão de contentamento algum tempo depois, ele e minha mãe.
Era uma bicicleta linda, pink, com cestinha....
Era o sonho de qualquer menina na época.
Para o meu irmão trouxe as peças para montar uma bicicletinha usada que estava encostada lá no quintal.
Na época não me dei conta do sacrifício que fizeram, anos mais tarde sempre os ouvia contar, que entraram na loja, perguntaram o preço, eu me lembro o valor R$ 126,00 e era muito dinheiro naquela época, época em que não se tinha a facilidade de crédito que se tem hoje. O vendedor não fez questão de parcelar, conta minha mãe que saíram da loja e ele os chamou de volta. Por isso ele voltou em casa sozinho, pegar o holerite    cujo salário, mais o que ele conseguia pintando casas e arrumando telhados, mais todas as costuras da minha mãe somavam uma quantia que satisfez aquele vendedor naquele dia.
Não me lembro em quantas parcelas ele comprou, certamente ele se lembra... Mas coisa que nunca esqueço foi aquela cena, meu pai subindo as escadas com aquele sorriso de satisfação.
O meu pai está longe da perfeição, mas sem sombra de dúvidas os erros e acertos dele fez de mim o que sou hoje. Das lições que aprendi com ele, além claro de andar de bicicleta ou patins, duas eu considero essenciais: Ter fé e dar valor ao pouco que se tem.
Quanto a Maria Clara, continuou lá.... (des)equilibrando-se e tendo a sua primeira lição de persistência.