julho 17, 2010

Algumas palavras...

Nunca desejei nada que pudesse perder, sempre tive muito medo de perder as coisas que eu pensava possuir, hoje sei que na verdade a gente nunca possui nada, as coisas e as pessoas vem e vão diáriamente, algumas delas nos pertencem por alguns instantes, outras passam despercebidas ao nosso olhar sempre apressado demais.
Aos 15 anos eu pensava que a vida era longa o bastante para fazermos tudo o que tinhamos vontade, hoje aos 25 percebo que os últimos 10 anos passaram sem que eu os notasse, provavelmente aos 50 terei a nítida impressão de não ter vivido o suficiente. Claro, para uma mulher (embora ainda não me sinta assim) de 25 anos eu tenho muitas conquistas, me casei e tenho filhos, amigos passaram aos montes, alguns deles para a vida toda, outros para os momentos de nostalgia ao lembrar do colégio e das baladas, empregos, idas e vindas, ilusões e desilusões. Também nos últimos 10 anos eu senti a dor de perder alguém para a morte, a inevitável morte, que simplismente chega, em um dia ensolarado ou em uma noite fria e alguém pega o telefone ou bate à tua porta para lhe dizer que lamenta a tua perda e você nunca está preparado para ouvir que nunca mais verá o sorriso daquele ente que você tanto amava, mas que, provavelmente,você nunca o disse isso.
Acho que foi a essa altura que eu passei a evitar desejar algo que eu pudesse perder, possivelmente foi aqui também que passei a viver pela metade, não sei lidar com despedidas e tenho medo de aceitar que aquilo que eu tanto amei irá embora levado pela morte ou pelas circunstâncias da vida que como eu disse antes, é feita de idas e vindas, chegadas e partidas.
Nunca soube expressar o amor que sinto, sempre preferi ser calada, pouco riso e poucas amizades, e sempre me senti muito sozinha, mesmo rodeada de gente, mesmo depois dos filhos e das coisas que eu tanto desejei. É um vazio que está sempre presente, se é que é possivel notar a presença do vazio e senti-lo, na verdade acho que ele é mais uma ausência que uma presença constante.
As vezes sinto que não realizei nada, que deixei a desejar nas coisas que tentei realizar, olho para trás e ainda me pergunto, como foi que eu cheguei até aqui? Não é permitido voltar, essa é a única regra e como algumas vezes eu desejei voltar e fazer diferente, desejei ter pego o telefone e ligado para alguém e dito: Caso eu ou você morramos amanhã, saiba que eu te amo, desejei ter dado risada das piadas sem graça de alguém, desejei voltar no tempo e pensar mais uma vez antes de tomar uma atitude, eu já quis poder acordar alguém no caixão e dizer me perdoa eu sempre gostei de você, apesar do meu orgulho, já quis ter feito escolhas erradas só pra saber se eu fiz mesmo a certa, poder testar uma decisão e voltar atrás sem machucar ninguém, sem que ninguém notasse e apesar de não ser muito da minha personalidade algumas vezes eu quis passar despercebida pela vida. Já desejei que existisse mesmo um céu onde as pessoas fiquem depois que partem e que elas pudessem ver que, apesar de eu nunca chorar, eu sinto a falta delas e eu as amei com toda a minha alma, alma muda, calada que não diz eu te amo.
Hoje, meu desejo é que eu pudesse desaparecer sem deixar vestigios, sem deixar na vida de ninguém um vazio, desaparecer como se eu não tivesse existido, hoje eu desejei não desejar nada, não amar nada nem ninguém, desejei não ter te conhecido, não ter visto teu sorriso e nem o brilho dos teus olhos para que ao partir sua ausência não se tornasse uma presença constante em mim, desejei não lembrar teu nome, não sentir que você não está aqui.
Por um instante, só por um momento eu quis voltar, te olhar, sorrir para você como uma desconhecida e não parar, te dar a alegria do meu sorriso e partir sem conhecer a doçura dos teus olhos e o conforto de não em sentir sozinha sabendo que você está ali, hoje pela manhã eu quis ir embora com você, sentar ao teu lado debaixo de uma árvore qualquer e contar estrelas a ´noite, sentir a brisa passar, mas não é possível eu sair despercebida sem fazer alguém triste.
Só não diga que eu não desejei o suficiente.